Recuperando a Paixão Pela Profissão

Você passa a vida escolar se preparando para cursar uma faculdade, muitas vezes essa decisão acontece sem ter a certeza da profissão a escolher. Mudamos de ideia no caminho - ou não - a formação vem e com ela o mercado de trabalho. Só então - eu acredito que seja assim - que vamos realmente saber se a nossa profissão é o que idealizamos lá no início, e o principal: Se somos felizes com ela!

Tenho pensado muito sobre isso ultimamente. Desde que decidi trabalhar menos com arquitetura e mais com artesanato acabei escutando por aí: - como você deixou a profissão de lado? - você trabalha tão bem, porque não continuar fazendo projetos. - Ah, mas como você consegue sobreviver fazendo bolsas? 

Botando a mão na massa. 
Sempre tive vontade de quebrar paredes, usar ferramentas pesadas, assentar
revestimentos e fazer tudo que sempre observei fazerem nas obras. 
Faltava isso na minha formação.

E hoje, depois de quase oito anos como autônoma, consigo perceber o que me fez deixar a profissão de lado e buscar algo a mais, algo que me desse alegria em acordar todas as segundas e trabalhar sem me sentir obrigada.

O lugar em que você trabalha, no meu caso escritório de arquitetura, é onde você tem que se sentir bem. O ambiente de trabalho precisa ser bacana, as pessoas se ajudarem e contribuírem para o bom desempenho dos projetos. E principalmente o tipo de trabalho tem que te agradar. Falo de arquitetura, que pode ter vários seguimentos: urbanismo, residencial, interiores, paisagismo, corporativa... e mesmo trabalhando no ramo que você gosta, interiores, por exemplo, o escritório tem que seguir a sua linguagem, ou seja, os projetos precisam ter a ver com a sua verdade, com você. Projetar algo que você não acredita acaba mais cedo ou mais tarde te frustando.

Uma das minhas últimas aventuras: rebocar um nicho. 
O próximo passo é assentar os azulejos.

E foi mais ou menos isso o que aconteceu comigo. Acabei entrando como estagiária no ramo corporativo, ou seja, sempre fiz escritórios de grandes empresas e multinacionais. Aos poucos fui entrando no ramo de interiores, residencias...e de todos os lugares em que trabalhei até hoje, apenas dois deles tinham projetos que eu gostava de fazer.

Muitas vezes é difícil mudar, você já está estabelecido, tem um salário bom, está habituado a todos na empresa, e mudar é difícil, pelo menos para mim. Mas tomei essa decisão de sair e trabalhar sendo autônoma. Foi um período de aprendizado, estar por sua conta e risco é muita responsabilidade também. Mas arrisquei, fiz meu primeiro apartamento sozinha, e as portas foram se abrindo. Mas neste período meu pai estava doente, e acabei não aceitando obras, fiz apenas projetos, e fiquei assim por um bom tempo.

Me dedicando a outra profissão, que tantas alegrias me dá. 
Me sinto feliz trabalhando com o artesanal também.

Doença, falecimento, outras responsabilidades e preocupações...acabei fugindo da arquitetura e fazia projetos apenas pelo dinheiro. E aos poucos fui estudando a costura e buscando outras fontes de renda.

Nos últimos três anos voltei a fazer obras. Aos poucos fui me sentindo a vontade outra vez. Voltei a visitar feiras e exposições ligadas a arquitetura - passei anos sem querer fazer isso - e atualmente estou muito feliz e tenho certeza que recuperei a paixão pela minha profissão.

São muitos desafios, mas os resultados são gratificantes que me sinto completa novamente. Fazendo o que gosto, aceitando projetos e obras que tem a ver comigo, com o meu estilo. Estudando mais sobre esse novo olhar, mais humano e menos capa de revista de decoração. Mas focado no fazer manual, nos artesãos, sinto que estou no caminho certo.

Não abandonarei nenhum dos meus trabalhos. Sinto que posso ser uma arquiteta-artesã, que faz projeto/obra e ainda encontra prazer em costuras bolsas e estampá-las manualmente.





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